Os 70 anos do Cine Teatro Ouro Verde

O Cine Teatro Ouro Verde completa 70 anos com vitalidade e aclamado como marco da cultura, da Arquitetura e da história de Londrina. Em 1978, o Ouro Verde foi adquirido pela UEL.

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Principal palco da cidade, o Cine Teatro Ouro Verde completa 70 anos com vitalidade e aclamado como marco da cultura, da Arquitetura e da história local. O teatro foi inaugurado em 24 de dezembro de 1952 e colocou a jovem Londrina no cenário cultural do país. Na cidade do barro vermelho, rodeada por lavouras de café, o prédio imponente, projetado pelo renomado arquiteto Vila Nova Artigas, impressionava pelo luxo – ar condicionado, poltronas reclináveis, decoração em veludo, além da enorme tela onde a população acompanhava o que se produzia de melhor na época. O cinema comportava 1500 pessoas, sendo 1100 no salão principal e 400 no balcão, segundo registro da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC).

Em 1978, o Ouro Verde foi adquirido pela UEL e teve o nome alterado para Cine Teatro Universitário Ouro Verde. O então ministro Ney Braga foi o responsável pela aquisição via Ministério da Educação e Cultura e, posteriormente, quando assumiu o Governo do Paraná pela segunda vez, em 1979. Sob a responsabilidade da Universidade, o Cine Teatro abrigou as mostras do Festival Internacional de Londrina (Filo), projetando a cidade novamente no cenário cultural brasileiro e até do exterior.

A diretora da Casa de Cultura da UEL, professora Marta Dantas, pontua que a história e a cultura da região têm no Ouro Verde um de seus pilares, marcado por uma trajetória de resistência e superação, inclusive com a destruição do prédio por um incêndio, há 10 anos. Entregue nos anos 1950 como referência arquitetônica, a partir dos anos 1980 o palco ganhou notoriedade passando a ser a casa dos festivais e dos espetáculos de todas as artes.  

“O cine teatro revelou o sonho de modernidade de uma urbe moderna. Se naquele tempo parecia um descompasso o luxo e a cidade, hoje esse prédio é atual e, por meio dele, se transformou no palco dos grandes festivais, abrigando manifestações ligadas à música, dança, teatro”, resume a professora. Nos anos 1980, o teatro foi também a casa oficial da recém implantada Orquestra Sinfônica (Osuel), que até hoje reúne um público fiel em seus concertos. A professora relembra ainda de grandes nomes nacionais e internacionais que se apresentaram no grande palco, como Vicente Celestino, Kazuo Onu, Astor Piazzola, Sivuca e tantos outros.

Mas a história glamourosa contrasta com a atualidade dura. A maior referência da cultura local é mantida pela Casa de Cultura da UEL, com recursos mínimos. Apenas três servidores atendem a demanda da infraestrutura. O dinheiro levantado com a bilheteria também é revertido para a manutenção. A professora Marta não esconde o temor sobre o futuro do espaço com a perspectiva de aposentadoria de funcionários, sem a devida reposição do quadro e com os impactos da Lei Geral das Universidades (LGU), que não reconhece os órgãos suplementares na estrutura das Instituições de Ensino Superior Públicas.

A esperança é que, como Patrimônio Histórico Estadual, o Ouro Verde possa ser abraçado pelo governo do Paraná e contar com apoio do município para manter as atividades culturais.

O lado bom é o reconhecimento, o pertencimento que o cine teatro mantém junto à população e produtores culturais. A agenda de 2023 está praticamente fechada com Festivais, apresentações da OSUEL e locações para eventos.

Arquitetura

Professora e chefe do Departamento de Arquitetura da UEL, Teba Silva Yllana, que coordena o Laboratório de Documentação Arquitetônica e da Construção Civil Luiz César da Silva, define o prédio do Ouro Verde como uma representação da explosão criativa de Vila Nova Artigas. Ela explica que a construção tem um volume interessante, que faz com que o Ouro Verde se destaque na paisagem do Calçadão de Londrina. Essa sensação pode ser justificada pelo pavimento superior, construído em curva, que projeta o prédio, ou seja, quem passa nas proximidades visualiza o teatro com facilidade.

Ela explica que a fachada de vidro amplia o espaço interno, dando dimensão para quem olha de fora. Outra observação interessante é o foyer (o grande salão da parte da frente, onde o público pode aguardar a abertura da apresentação). “É uma estrutura que amplia o todo o espaço interno, prospecta a pessoa de fora, estimula para que ela adentre”, explica Teba.

Para a professora, o prédio tem grande importância para Londrina, como uma identidade, onde acontecem espetáculos e sessões de cinema. Ela lembra que, quando da destruição do prédio pelo incêndio em fevereiro de 2012, vários setores da sociedade se mobilizaram para a reconstrução, entre eles o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) e o próprio Departamento de Arquitetura da UEL, que se responsabilizaram pelos projetos.

Segundo ela, essa mobilização resultou em uma reconstrução da obra, incorporando melhorias necessárias como ampliação do palco, mudança nos camarins e uso de tecnologias de segurança. “Foi feita uma construção atualizada, sem perder as características do patrimônio, o que é muito positivo”, define ela.

Reconstrução

A história de resistência do teatro foi marcada por uma tragédia, que custou a destruição do prédio em 12 de fevereiro de 2012. Um incêndio de grandes proporções consumiu em horas praticamente toda a estrutura física do espaço, provocando comoção jamais vista em Londrina. Foi como se a cidade tivesse perdido uma personalidade importante, um parente próximo. Naquela tarde, centenas de pessoas se perfilaram em frente ao teatro em chamas, acompanhando o trabalho dos bombeiros. Ao final do dia, restaram apenas a fachada do prédio, parte da área frontal e superior, as lembranças do velho teatro e um cheiro insuportável de madeira queimada.

A reconstrução mobilizou a Administração da UEL, clubes de serviço, entidades e a sociedade civil organizada. O sentimento era de que a obra precisaria ser reconstruída e devolvida ao seu legítimo dono. Em janeiro de 2014, o governo formalizou o contrato e liberou a ordem de serviço para início das obras de reconstrução. A reforma foi executada pela empresa Regional Planejamento e Construções Civis, de Londrina, vencedora da licitação. O custo total chegou a R$16 milhões.

O técnico responsável foi o engenheiro José Pedro da Rocha Neto, proprietário da Regional, conhecido pela execução de dezenas de obras públicas no estado. Ele conta que a reconstituição exigiu cuidado, articulação política para a liberação dos recursos e muita resiliência. Ao final ficou a satisfação em ter entregue uma construção emblemática para Londrina e dois livros que narram a experiência, uma vez que o engenheiro também é escritor.

“Eu acredito que o resultado ficou muito bom”, afirma o José da Rocha Neto. Ele explica que ouviu elogios de vários colegas da área e que o trabalho foi até tema de dissertação de mestrado de um estudante de engenharia.

José da Rocha lembra que o Ouro Verde também é importante para ele, nascido e criado em Londrina. Aos 82 anos, ele se lembra da inauguração do prédio, em 1952, e que o equipamento era usado pela sociedade local. Segundo ele, há 70 anos, a entrega do Ouro Verde foi notícia nacional, dado o inusitado do investimento, do luxo e da tecnologia. A reconstrução demandou três anos de trabalho e foi novamente notícia nacional. O Cine Teatro Ouro Verde teve sua reinauguração na noite de 30 de junho de 2017, sem dúvida o renascimento do prédio mais icônico de Londrina, a casa das artes.

Via: O Perobal