A maioria das pessoas recém-formadas em cursos de graduação acaba ocupando vagas destinadas a quem tem ensino médio, quando se trata de contratações por empresas, o modelo CLT. A constatação é de um cruzamento de dados inédito realizado pela Geofusion, uma empresa da Cortex especializada em análise de dados e soluções de inteligência geográfica de mercado.
A maioria das pessoas recém-formadas em cursos de graduação acaba ocupando vagas destinadas a quem tem ensino médio, quando se trata de contratações por empresas, o modelo CLT. A constatação é de um cruzamento de dados inédito realizado pela Geofusion, uma empresa da Cortex especializada em análise de dados e soluções de inteligência geográfica de mercado.
Obtida com exclusividade pelo Valor, a análise mostra que, quando considerados os dez maiores cursos do Brasil em número de matrículas, como pedagogia, direito e administração, menos de 9 mil dos quase 67 mil formados ingressaram em cargos de nível superior, representando apenas 12% dos egressos das universidades no recorte analisado.
Para chegar a tais números, a Geofusion solicitou autorização de acesso aos órgãos públicos e combinou dados do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho, analisando quase 100 mil registros de 2018 (último dado disponível nos sistemas federais). A amostra não traz uma visão de pessoas de forma individualizada, apenas quantitativa.
Isabela Cavalcanti de Albuquerque, gerente de produtos de dados da Geofusion, explica que a análise se deu porque a empresa tem, entre seus clientes, instituições do setor de educação, e o objetivo era gerar dados precisos para que seja possível tomar decisões mais assertivas do que entregar para a sociedade, e o que o mercado precisa. “Os resultados mostram um achatamento do trabalho do profissional com ensino superior, e isso gera grande preocupação”, afirma. “Nosso objetivo é que tanto o poder público quanto as universidades olhem para isso para entender como o mercado de trabalho está absorvendo quem sai da graduação, ou a gente vai continuar formando profissionais de ensino superior que estão indo para outro lado, achatando mais quem não tem o ensino superior.”
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil 21% da população tem curso superior.
Entre os recém-formados em enfermagem, de acordo com a análise, apenas 7% dos graduados atuam em cargos de nível superior. Entre os que se formaram em direito, o número de ocupantes em cargos de nível superior é de 9%. Considerando todas as áreas de formação, a realidade é marcada pela predominância de cargos como assistente administrativo (37%), seguido por auxiliar de escritório (18%) e auxiliar de serviços jurídicos (15%). Entre os formados em administração, apenas 3% atuam como administradores, enquanto 52% ocupam cargos como assistentes administrativos e 36% assumem posições de auxiliar de escritório.
Albuquerque lembra que é importante considerar o fato de que, em muitas carreiras, os profissionais costumam atuar como autônomos. “Mas o estudo revela que, quando se trata de contratação por empresas, pode estar ocorrendo um movimento de exigência de super qualificação para vagas que poderiam ser ocupadas por trabalhadores com ensino médio.”
Via: Valor Econômico
Foto: Pixbay