O projeto de pesquisa “Geração de modelos de previsão de risco para ciclistas em áreas urbanas”, vinculado ao Laboratório de Engenharia de Transportes (LET) e coordenado pelo professor Carlos Alberto Prado Júnior, do Departamento de Construção Civil (CTU), visa entender potenciais fatores de risco para ciclistas em meio a outros veículos, ao mesmo tempo em que busca soluções para que os deslocamentos com bicicletas sejam mais seguros, tanto para os ciclistas quanto para os motoristas.
De acordo com uma pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul), apenas 1% dos deslocamentos na cidade de Londrina são feitos utilizando bicicleta. O índice tímido pode ser resultado de uma série de fatores, que envolvem questões sociais e comportamentais, mas, certamente, um ponto decisivo é a segurança dos ciclistas. Dividir espaço nas ruas com carros, motos, ônibus e caminhões pode ser uma combinação ameaçadora e intimidadora para muitos usuários das “magrelas”.
O projeto de pesquisa “Geração de modelos de previsão de risco para ciclistas em áreas urbanas”, vinculado ao Laboratório de Engenharia de Transportes (LET) e coordenado pelo professor Carlos Alberto Prado Júnior, do Departamento de Construção Civil (CTU), visa entender potenciais fatores de risco para ciclistas em meio a outros veículos, ao mesmo tempo em que busca soluções para que os deslocamentos com bicicletas sejam mais seguros, tanto para os ciclistas quanto para os motoristas.
As dinâmicas do planejamento urbano geram distorções que impactam diretamente na possibilidade de escolha do transporte ativo, como a bicicleta, ao invés de veículos motorizados. Longas distâncias e maior número de viagens diárias exigem mais agilidade e segurança, propiciando a escolha de carros e motos, por exemplo. Nesse sentido, aqueles que não têm acesso ou escolheram outros modais, como a bicicleta, acabam com a acessibilidade e a mobilidade prejudicadas justamente por terem que dividir espaço com os veículos motorizados, em número bem maior, pelas ruas. Segundo o Ippul, a cidade de Londrina conta com uma malha cicloviária de 41 km. Esta malha, além de não ser integralmente ligada, está concentrada em poucas regiões.
Atualmente com 12 participantes, o projeto teve início em outubro de 2019. Participam professores e estudantes de graduação (Iniciação Científica e TCC) e pós-graduação (mestrado e doutorado).
O engenheiro civil formado pela UEL Thiago Louro passou pelo projeto e desenvolveu seu mestrado entre 2019 e 2021 no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, na área de Transportes e Geotecnia. Ele conta que, quando ingressou no mestrado, o professor Carlos Alberto o convidou para investigar uma das frentes de estudo do projeto, sobre ultrapassagens perigosas envolvendo ciclistas. Foi assim que ele se aprofundou no tema da segurança cicloviária, com foco na distância entre a bicicleta e os outros veículos pelas ruas.
Para a pesquisa, foram feitos testes utilizando uma bicicleta urbana com um dispositivo para medir a distância e a velocidade de ultrapassagem e uma câmera GoPro, que foram instalados no bagageiro traseiro da bicicleta. Também foi instalado um radar de velocidade próximo à câmera para aferir a velocidade de aproximação dos veículos.
Thiago, então, protagonizou o experimento, fazendo 36 viagens em um percurso fixo na região central de Londrina, sempre em horários de pico de movimento, ou seja, entre 7h30 e 8h30 e entre 17h30 e 18h30. Ele explica que os dados coletados durante as viagens de bicicleta foram aplicados a correlações matemáticas com o objetivo de identificar quais fatores mais influenciavam na distância lateral e na velocidade de ultrapassagem entre veículos motorizados e ciclistas. Entre esses fatores, estão presença de ciclovia, presença de vagas de estacionamento, tipo de veículo (passeio, utilitário ou pesado), período do dia (manhã ou tarde), uso do solo (comercial ou residencial), limite de velocidade na via (40, 50 e 60 km/h), hierarquia da via (local, coletora e arterial) e largura da via (2,5, 2,0, 3,5 e 4,0 metros).
Como resultado, a presença de ciclofaixa foi o principal fator que influenciou as distâncias laterais entre a bicicleta e os outros veículos, mostrando-se uma boa opção para a segurança dos ciclistas. Diferentemente das ciclovias, que podem estar presentes em canteiros e ter mão dupla, a ciclofaixa é mais simples. Consiste em uma sinalização na lateral da via que indica um espaço reservado para o trânsito de bicicletas, acompanhando o sentido da via. Além das ciclofaixas, vias mais largas e limites de velocidade menores também foram apontados como fatores de maior segurança para os ciclistas.
Com base nesses dados, Thiago afirma que é “altamente recomendável” que os agentes públicos apostem na ciclofaixa como opção de baixo custo, sobretudo em zonas comerciais, de limite de velocidade alto e também com presença de veículos pesados, como ônibus e caminhões.
Segundo ele, as ciclofaixas observadas no estudo têm, em média, um metro de largura. Assim, se uma rua possui duas faixas de 3,5 metros no mesmo sentido de tráfego, é possível construir uma ciclofaixa de um metro e ainda manter duas faixas de 3 metros.
O pesquisador ressalta que o estudo dos fatores e as intervenções apontadas têm o objetivo de aumentar o número de ciclistas nas ruas. Thiago lembra que, em um contexto de mudanças climáticas, incentivar o transporte ativo deve ser um compromisso do poder público. “O argumento de que não se deve construir infraestrutura para bicicletas porque não há um número suficiente de ciclistas não faz sentido. É irreal imaginar que as pessoas começarão a usar a bicicleta sem uma infraestrutura que permita uma viagem segura”, afirma.
Atualmente, Thiago Louro está desenvolvendo seu doutorado em um programa de dupla titulação, entre a Universidade de São Paulo (USP), na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e a Universidade de Twente, na Holanda, na área de Engenharia de Transportes.
Via: O Perobal
Foto: Pixabay