O professor Fábio César Alves da Cunha, do Laboratório de Análises territoriais Cidade Campo-LATEC (Departamento de Geografia) da UEL, apurou seu olhar crítico com a Abordagem Socioambiental, à qual recorreu em seus estudos de Pós-Doutorado, em 2013-2014, na Universidade Federal do Paraná, sob orientação do professor Francisco de Assis Mendonça. Esta abordagem extrapola a dualidade Geografia Física/Humana e observa toda a construção de uma cidade, seu processo de urbanização, modelos de ocupação e colonização empregados, mas inclui os aspectos físicos como divisores de água, vertentes, fundos de vale, ribeirões e córregos.
O professor Fábio César Alves da Cunha, do Laboratório de Análises territoriais Cidade Campo-LATEC (Departamento de Geografia) da UEL, apurou seu olhar crítico com a Abordagem Socioambiental, à qual recorreu em seus estudos de Pós-Doutorado, em 2013-2014, na Universidade Federal do Paraná, sob orientação do professor Francisco de Assis Mendonça.
Esta abordagem surgiu há cerca de 30 anos e tem crescido expressivamente como fundamentação de pesquisas de Mestrado e Doutorado em Geografia. De acordo com o professor Fábio, esta abordagem extrapola a dualidade Geografia Física/Humana e observa toda a construção de uma cidade, seu processo de urbanização, modelos de ocupação e colonização empregados, mas inclui os aspectos físicos como divisores de água, vertentes, fundos de vale, ribeirões e córregos.
É esta a abordagem teórico-metodológica que alicerça o projeto “O crescimento da cidade de Londrina nas décadas de 1930, 1940 e 1950, com base na Abordagem Socioambiental”. No caso, o pesquisador tem como objetivo perscrutar o cenário da região norte do Paraná desde antes da chegada dos ingleses, incentivados pelo governo federal e movidos por um plano de explorar e lucrar com a venda de terras. É bom lembrar que quando os ingleses chegaram onde veio a ser Londrina, há 100 anos, a Inglaterra ainda era imperialista: só na África, possuía cerca de 20 colônias. Gana só se tornou independente em 1957; Botswana em 1966; e Seychelles em 1976.
As fontes históricas encontradas pelo professor revelam uma realidade bastante diferente da grande maioria das narrativas literárias sobre o nascimento e desenvolvimento de Londrina. São fatos pouco ou nada falados pela versão contada pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) ou outros autores.
Um exemplo está na tese de Nelson Dacio Tomazi (de 1997, pela UFPR, depois publicada em livro). Lá, ele fala de “conjunto de idéias e imagens identificadas com: progresso, civilização, modernidade, colonização racional, ocupação planejada e pacífica, riqueza, cafeicultura, terra roxa, pequena propriedade, terra onde se trabalha, pioneirismo, etc. É um discurso construído ao longo de todo o século XX, mas principalmente entre os anos 1930 e 1950, procurando criar uma versão, do ponto de vista de quem domina…”. A tese é intitulada “Norte do Paraná: História e fantasmagorias”. Este último termo designa os silenciamentos, como a violência e exclusão, e o próprio fato de que a região não era um vazio, mas habitada.
É fácil perceber como História e Geografia estão interligadas na ocupação e colonização de uma região. Exemplo no Paraná mesmo está no surgimento de cidades como Castro, no caminho dos tropeiros que saíam de Viamão (RS) e conduziam o gado até Sorocaba (SP). Mais para o interior, no 2º Planalto, a falta de recursos como uma terra fértil gerou menos núcleos urbanos e uma rede urbana mais esparsa. Fato perceptível quando se vai de Londrina para Curitiba pela BR 376: existem, praticamente, duas cidades nessa rota, depois da Serra do Cadeado.
Quando os ingleses chegaram, uma ocupação incipiente já existia no Norte Pioneiro, inclusive com um ramal ferroviário que se estendia até Cambará (quase 140km de Londrina). “Os solos férteis, com uma vegetação exuberante e a proximidade ao estado de São Paulo, foram características que atraíram os ingleses para um futuro plano colonizador lucrativo na região da CTNP”, explica o professor Fábio.
El Dorado - Londrina e entorno foram objeto de fortes campanhas publicitárias, que ofereciam terra fértil, sem saúvas, para o plantio de culturas como café e algodão apesar da geada ser um problema. A Missão Montagu, liderada por Lord Lovat, visitou a região e ajudou a construir o discurso do “El Dorado”.
De acordo com o professor Fábio, o modelo de colonização trazido pelos ingleses – muito experientes nisso – era muito lógico: dentro de uma área que vai das atuais Ibiporã a Umuarama, aproximadamente, foi aproveitada a geografia (os espigões – elevações alongadas, divisores de água entre bacias hidrográficas) para construir vias, como estradas de ferro e ruas. A rua Quintino Bocaiuva se localiza sobre um desses espigões na cidade de Londrina.
Por outro lado, os ingleses fizeram muitas exigências, todas atendidas pelo governo. Para começar, isenções de tributos; direito de desapropriar prédios e benfeitorias; uso exclusivo de uma faixa de 15 km para cada lado de uma futura ferrovia; pagamento por km de linha construída e em uso, e proibição de instalação de indústrias foram outras – a ideia era ter grande controle sobre o desenvolvimento das cidades da região. Houve desenvolvimento, mas sob a batuta inglesa. O grande loteamento do norte paranaense se encaixava na ideologia britânica: lucrar.
Há no mínimo discrepâncias nas informações longamente disseminadas pela Historiografia. Por exemplo, o dia da chegada da “primeira caravana” a colocar os pés na futura Londrina, por exemplo, não no dia 21 de agosto de 1929, mas no dia 22, conforme o relato de Erwin Fröhlich, o cozinheiro da caravana, para a revista “A Pioneira”, de 1949. A diferença de um dia pode parecer pequena, mas denuncia a divergência. De acordo com o professor, a data consagrada vem de um relato de George Craig Smith feito em 1973, ou seja, mais de 40 anos depois do fato. Pode-se confiar na memória para detalhes?
“Progresso” - Era a ideia de “progresso” da época. Preocupações com a conservação ambiental só veio entre as décadas de 60 e 70. Antes disso, eram exaltadas as imagens fotográficas das árvores ao chão e o pioneiro em cima, armado de um machado. Já a abordagem socioambiental faz indagações como: “O que há sob a cidade?”. O crescimento urbano se deu sobre uma determinada Natureza, logicamente impactada pela ocupação humana. Em Londrina, não foram poucas nascentes aterradas para dar lugar a um bairro, quarteirão ou edificações.
O professor Fábio Cunha prossegue em sua pesquisa. Esta primeira etapa produziu um artigo, intitulado “Considerações sobre a atuação dos ingleses no prelúdio do surgimento de Londrina-PR” e publicado na Revista Formação, do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Neste artigo, por exemplo, o pesquisador afirma que o surgimento da CTNP está ligado diretamente aos interesses do governo em conseguir um empréstimo de 25 milhões de libras do banco inglês Rothschild. A condição era apoiar uma missão que ela enviaria ao Brasil. A revista pode ser acessada neste endereço.
A próxima etapa da pesquisa visa investigar como se consolidou o crescimento urbano nas três primeiras décadas da cidade, 30, 40 e 50, um período ainda anterior às fortes mudanças nas décadas seguintes, como o uso do solo e mecanização da agricultura, o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei 4214/63), Estatuto da Terra (Lei 4504/64) e as fortes geadas que colaboraram para tirar um grande contingente de trabalhadores da zona rural e que se direcionaram para as médias e grandes cidades e geraram novos problemas nesses espaços.
Via: O Perobal