O objetivo do projeto coordenado pelo professor Fábio Yamashita, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UEL, é utilizar resíduos agroindustriais provenientes da moagem de trigo e da produção de etanol de milho como insumos para a produção de materiais biodegradáveis, ou seja, produzir polímeros (compostos constituídos por longas cadeias de moléculas) biodegradáveis.
O Brasil recicla muito pouco do lixo plástico que produz, o que contribui para impactos no meio ambiente e na saúde da população, como vêm indicando os estudos sobre os microplásticos, cuja presença já foi detectada em quase tudo que se consome, desde água até alimentos. Mas se o foco não fosse apenas reciclar o plástico convencional, mas sim substituir parte de sua produção por materiais biodegradáveis? Essa solução existe e é proposta no projeto “Desenvolvimento de Materiais Biodegradáveis Utilizando Resíduos da Agroindústria”, coordenado pelo professor do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Fábio Yamashita.
O objetivo do projeto é utilizar resíduos agroindustriais provenientes da moagem de trigo e da produção de etanol de milho como insumos para a produção de materiais biodegradáveis, ou seja, produzir polímeros (compostos constituídos por longas cadeias de moléculas) biodegradáveis. A razão para usar o trigo e o milho no projeto é que são resíduos industriais gerados em abundância no país, logo, são fontes de farta matéria-prima – e de baixo custo – para serem empregados na produção de plásticos biodegradáveis.
A ideia é misturar os resíduos de trigo e de milho com outras substâncias, como amido, glicerol e poli (ácido lático) (PLA), um plástico biodegradável sintético originado da fermentação de açúcares. Nessas misturas, também chamadas blendas, o PLA é o componente principal, aquele que dará ao produto final as características do plástico, como maleabilidade e flexibilidade. Aliás, o PLA é um plástico biodegradável, entretanto, os custos para sua produção são altos, o que ainda torna a opção da indústria pelos plásticos derivados do petróleo mais economicamente atrativa. O objetivo da inserção dos resíduos de trigo e de milho nas blendas é justamente diminuir a quantidade de PLA nelas, tornando o produto final com custo-benefício mais atraente para o mercado. Na composição com o PLA, o trigo e o milho teriam a função de preencher a estrutura, ocupar espaços, reduzindo um pouco o volume de PLA nela.
O estudo usará dois processos para compor essas misturas e produzir os plásticos biodegradáveis, um por extrusão, e outro por injeção termoplástica. Esses processos já são utilizados normalmente na indústria para a produção de plásticos, o que é uma vantagem da proposta do projeto no que diz respeito à sua aplicabilidade no mercado, já que as empresas do setor que adotassem as ideias do estudo não teriam custos extras com investimentos em novas máquinas. “Nós utilizamos as mesmas metodologias, tecnologias e equipamentos que já são utilizados pelas indústrias na produção do plástico convencional, então esse é um diferencial importante do projeto”, comenta o professor.
A extrusão nada mais é do que o processo pelo qual uma máquina, sob determinada temperatura, esmaga e mistura materiais diversos, dando-lhes um formato compacto e em forma de “espaguete”, que depois será cortado em pellets (pequenos grânulos cilíndricos) para destinação comercial. Já o processo de injeção termoplástica é feito após a extrusão, quando os pellets são derretidos e dispersos em moldes predeterminados, conforme o uso que se queira dar ao material. É no processo de injeção termoplástica que os plásticos que conhecemos no dia a dia (como copos, talheres e bandejas plásticas) tomam sua forma definitiva para o consumo.
No projeto, serão feitos dois tipos de misturas, uma com resíduos de milho e outra com os de trigo, permanecendo nas duas os três componentes básicos: amido, glicerol e PLA. Fora isso, para avaliar o efeito da adição de cada resíduo agroindustrial em cada tipo das duas blendas, serão testadas diversas formulações de cada um, com proporções diferentes dos materiais em cada uma. Em seguida, serão determinadas as melhores formulações, de acordo com a processabilidade da blenda, ou seja, características valorizadas pelo mercado de plásticos, como flexibilidade e resistência.
A importância do projeto reside em duas dimensões: a sustentável, relacionada ao meio ambiente, e a econômica. A adoção do plástico biodegradável pelas indústrias reduziria o volume de plásticos derivados do petróleo e o seu consequente descarte inadequado, contribuindo com a redução de impactos ambientais e na saúde da população. Na esfera econômica, a agroindústria produtora de milho e de trigo daria um valor agregado a mais para esses produtos, já que seus resíduos, hoje com baixo valor, teriam a destinação voltada para o mercado de produção de plásticos. O desafio é convencer o mercado a adotar o plástico biodegradável de forma mais intensa, já que menos de 1% dos plásticos utilizados mundialmente são biodegradáveis.
Conscientização
Para Fábio Yamashita, a adoção dos plásticos biodegradáveis também tem a ver com a conscientização da população. “As pessoas compram uma garrafa de refrigerante para tomar 125 ml, e jogar fora. A embalagem é mais cara do que o que está dentro. As pessoas estão pagando só a embalagem! Então por conta de uma praticidade, de um conforto, não se pensa na consciência ambiental”, comenta o professor. E, sobre o problema dos microplásticos, adverte que se a produção de plástico convencional não diminuir, consequências virão: “Nós estamos lidando com uma bomba-relógio, porque esses microplásticos que estão sendo detectados agora foram produzidos há 20 anos. Só que nesse tempo todo, houve uma explosão de consumo de plástico. Imagine no que vai se transformar essa montanha de plástico daqui a 20 anos!”, alerta.
Por promover padrões de consumo e produção mais sustentáveis, a proposta do projeto está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Via: O Perobal