Pesquisa da UEL ajuda a criar Observatório da Violência contra Mulheres em Londrina

Projeto surgiu de uma cooperação técnica firmada entre a Prefeitura, a Universidade Estadual de Londrina e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Por Redação Alumni UEL com Blog Londrina 

  • Compartilhe:

Um acordo de cooperação assinado entre a Universidade Estadual de Londrina (UEL), representantes da prefeitura de Londrina e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) resultou na estruturação e implantação do Observatório da Violência contra as Mulheres, que vai funcionar atrelado à Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres auxiliando no planejamento de políticas públicas. O lançamento foi feito no Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, 22 de julho.

Leia mais: Mulheres de luta e a luta das mulheres: Sobre dores, perdas e o trabalho de tecer redes 

O Observatório utilizará um sistema que integrará as informações inseridas, para que não haja duplicidade de dados sobre a mesma pessoa ou fato ocorrido. Isso vai possibilitar a extração de relatórios, com cruzamento de dados, aprofundamento de análises e monitoramento de ações, que contribuirão para o acompanhamento e o desenvolvimento de políticas públicas.

“O Observatório da Violência vai criar mecanismos de monitoramento das ações de enfrentamento, que ajudarão na produção do diagnóstico sobre a violência contra as mulheres no município, além de permitir um melhor conhecimento sobre as circunstâncias dos casos e as situações enfrentadas. Isso vai dar subsídios para a tomada de decisões no planejamento das políticas públicas específicas para o enfrentamento da situação de violência doméstica, familiar e sexual em Londrina”, acredita a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Liange Doy Fernandes,

Como surgiu 

O Observatório da Violência surgiu da iniciativa da professora Dra. Sandra Lourenço, que atua como coordenadora dos grupos de pesquisa sobre Violência de Gênero e Pesquisa Social, e Produção do Conhecimento, ambos do Departamento de Serviço Social, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Segundo a doutora em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e professora da UEL, ao realizar pesquisas sobre violência de gênero, com a demanda dos serviços que compõem a Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica, foi possível perceber a necessidade de se criar um sistema que unificasse os dados.

Pensando nisso, a professora Doutora acabou articulando a ideia com a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM), por meio da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica, Familiar e Sexual em Londrina e com a UTFPR. Assim, surgiu a parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Prefeitura de Londrina. A primeira ação foi uma capacitação com o grupo Observem, do Ceará, que já conta com um Observatório de Violência contra a Mulher.

Com os grupos de pesquisa e a participação na Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, cuja pesquisadora integra desde sua criação, em 2011, foi possível conhecer as principais demandas e obstáculos existentes nos serviços de atendimento às vítimas de violência contra mulher, por isso veio a ideia de criar o Observatório da Violência.

“Cada órgão integrante da rede tem seu próprio sistema de dados e a nossa intenção é unirmos as informações, para que, de fato, consigamos fazer um cruzamento e mapearmos a violência de gênero, sem termos duplicidade de dados ou ausência de casos. O fenômeno da violência tem que ser enfrentando não só do ponto de vista da legislação, mas da articulação permanente entre os serviços e Londrina faz a diferença com uma rede muito bem estruturada no Município”, elucidou a doutora e pesquisadora da UEL.

Quais os benefícios 

Com o sistema do observatório, será possível informatizar as fichas de atendimento às vítimas de violência, que são diariamente preenchidas pelas servidoras municipais do CAM. Somente no Centro de Referência de Atendimento à Mulher são mais de 11 mil prontuários físicos que devem ser digitalizados. A intenção é que, futuramente, sejam colocados no sistema eletrônico também os dados de outros órgãos, como da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), do Instituto Médico Legal (IML), Ministério Público do Paraná, Tribunal de Justiça, da 17ª Regional de Saúde, e de outras portas de entrada aos serviços.

Com isso, os pesquisadores, municiados de informações e dados técnicos poderão saber quem são os agressores, quantos voltam a reincidir na violência, quantos cometem agressões com outras pessoas, quem são as vítimas mais frequentes, qual sexo, idade, raça/etnia e escolaridade, quais são as regiões com maiores índices de violência contra a mulher, quais serviços atenderam a vítima de violência doméstica, qual a tipologia da violência, entre outras informações.  “Nossa ideia é analisarmos os dados já existentes, a começar pelo CAM. É um processo longo, de bastante trabalho, por isso vamos contar com a ajuda dos graduandos, mestrandos e doutorandos dos projetos de extensão das universidades. Mas, é de extrema importância, porque atende à comunidade com a construção coletiva do conhecimento e ajuda na formação acadêmica dos alunos”, disse a professora da UEL.

Construção do sistema 

As reuniões que viabilizaram a construção do Observatório da Violência começaram aproximadamente 2 anos atrás. Durante esse período, o professor Dr. Cristiano Marcos Agulhari acompanhou as demandas das servidoras municipais do CAM, durante reuniões de trabalho, para saber quais pontos deveriam constar no software. Por isso, agora, todos os dados contidos nas fichas de acolhimento estão contidos no sistema.

Ele é engenheiro de Computação, mestre e doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sendo o último em co-tutela com o Institut National des Sciences Appliquées (INSA) de Toulouse. Atualmente, Agulhari é professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e coordena um projeto de extensão com dois alunos de Engenharia de Controle e Automação e de Engenharia de Computação na UTFPR.

Com a participação do professor doutor no projeto, foi possível criar o software, que segue protocolos de segurança ética e garante o sigilo das informações pessoais das vítimas. Por isso, os servidores que atendem as vítimas têm uma senha e login diferentes daquelas repassadas para os pesquisadores, que utilizam os dados para as pesquisas.

“Queremos analisar os dados e ser útil ao Município. É um projeto que envolve muitas áreas, muitas instituições públicas de esferas diferentes, como o Município, o Estado e o Governo Federal, além da questão da segurança de dados. O interessante é que nenhuma das instituições tem interesse financeiro. Todos têm somente o objetivo de utilizar o recurso público, para ajudar a melhorar o atendimento à população. Com o sistema de programação do Observatório da Violência, nós ajudamos dando velocidade para os profissionais encontrarem as informações que precisam durante os atendimentos às vítimas de violência no CAM, e, no futuro, vai ser possível interligar outros serviços”, explicou o pesquisador da UTFPR, Agulhari.

O lançamento do Observatório da Violência contra a Mulher é a primeira de uma série de atividades que acontecerão em Londrina até o mês de agosto. Até lá estão previstas ações para marcar o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio (22/07); o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25/7) e o aniversário de 15 anos da Lei Maria da Penha (07/08). O cronograma completo dessas atividades deve ser divulgado nesta semana.